Estou a olhar para ti neste momento. E o que vislumbro nada mais é aquilo que tu és: Um simples ser virado de costas, desprezando-me com todas as forças que tens. Só porque te amo. Só porque, em certa ocasião te escrevi o segredo mais bem guardado no meu coração. Se estás bem ou mal pouco me importa agora: Não vejo a tua expressão, outrora feliz e bela. Agora..não sei.
Estás nua não estás? apenas envolta naquele lençol branco que fazia de ti fada luminosa, quando olhava para ti sem rancor. Nua apareces em todos os meus sonhos, mas sem esse cobertor malfadado que esconde a pureza que via em ti. Agora apenas vejo lixo. apenas vejo alguém que merece estar de costas para uma parede infinita, olhando largamente para o chão. Permanecer assim de joelhos, frágil, amordaçada à vida, com medo de virar a cara para me ver.
Tens medo.. não tens? sempre tiveste. E não seria agora que tudo isso ia mudar. Agora muito menos. tens-me ódio, eu sei, mas talvez esse ódio não seja maior que aquele amor que nutria por ti, e que sempre carreguei dentro de mim, como a maior mágoa da minha vida.
Porque a teus braços caio. E cairei, mal me chamares para esse lençol envolto de brancura, que para nada mais serve senão para me enganar os sentidos. Porque sei que ele é a porta de entrada para algo agonizante. Como tu. Como o amor por ti que nunca me deixou respirar, apenas sorver alguns tragos de ar que tu ias deitando fora. E,com todas as minhas forças, tento ter nojo de ti, muito mais do que pena, compaixão ou, simplesmente, amor.
Embora me apeteça tocar-te.Ajoelhar-me a teu lado. Virar tua cara para mim e roubar-te um beijo, dois,três, retirar o lençol que te cobre para que te possa ver como nos meus sonhos. E tudo aí seria perfeito. Cairia a teus braços e em meus braços envolvia-te. e faríamos amor até que tudo se desmoronasse perante nós. Até que eu acordasse repentinamente e percebesse que tudo não passava de mais um sonho.
Um dia gostava de acordar, mas agora que estamos sós neste quarto escuro, onde tu ignoras minha presença, cada vez mais julgo que o meu sonho está perto de se tornar algo palpável. E mesmo odiando-te, a teus braços caio. Eternamente.
Obrigado.
